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Foto do escritorRoberto Francisco Mennuti

Proteção e segurança em shoppings


Com estruturas peculiares e circulação diária de grande fluxo de pessoas, prevenção de incêndios em centros de compras exige cuidados específicos.


O Brasil tem hoje 563 shopping centers e 15 novos empreendimentos estão sendo inaugurados somente neste ano. Para 2020, outros 20 devem entrar para a lista. A cada mês, esses estabelecimentos recebem cerca de 490 milhões de visitantes. Os dados são da Associação Brasileira de Shopping Centers (ABRASCE). Uma das principais áreas de lazer do brasileiro, os shoppings possuem projetos arquitetônicos peculiares e exigem cuidados especiais quando o assunto é segurança contra incêndio.


Além do grande fluxo de pessoas que circulam por seus corredores diariamente,

os sistemas de prevenção precisam levar em consideração as diversas e variadas estruturas presentes, como praças de alimentação, salas de cinema, estoque e as próprias lojas.


O major do Corpo de Bombeiros do Paraná, lvan Ricardo Fernandes, que coordena o curso de especialização em engenharia de segurança contra incêndio da PUC-PR, alerta para a necessidade de pessoal especializado e com conhecimento especifico na área das instalações dos shoppings. “A diversidade

de produtos que ali possam existir somadas as especificidades das situações de emergência são os principais diferenciais para o êxito das operações de socorro e combate" conta.


Sob o ponto de vista de possíveis propagações de incêndio nestas edificações, o major destaca as recentes exigências dos CB de todo o Brasil: compartimentação de áreas nas edificações e o controle de materiais de acabamento e revestimento. “A compartimentação impede a propagação dos gases aquecidos a ambientes não atingidos pelo fogo, assim como o controle de materiais de acabamento e revestimento impede a propagação do fogo a materiais ainda não

incendiados, além de desprenderem menor quantidade de calor e fumaça’’, explica.


Em regra, as medidas de segurança são determinadas em função do tamanho da área e da altura das edificações, e a quantidade de medidas em função do risco de incêndio, "Embora não exista uma padronização das exigências de ações de segurança nas normas dos CB, como regra geral edificações com até 750m² de área construída deverão adotar medidas mais simples, como extintores, sinalizações, iluminações e saídas de emergência", ressalta o major Fernandes.


No caso dos shoppings, que geralmente têm áreas superiores a 750m², além das

providências mencionadas, ele salienta que deverão ser previstos critérios de compartimentação, segurança estrutural, controle de materiais de acabamento e revestimento, detecção e alarme de incêndio, além de hidrantes e rede de sprinklers e brigadas de incêndio. “Situações especiais podem exigir sistemas de controle de fumaça, que é uma das mais eficientes medidas de segurança contra incêndio e pânico’’, cita.


De acordo com o major Denilson Aparecido Ostroski, chefe da Divisão de

Análises e Legislação do CBSP, o controle de material de acabamento e revestimento é uma exigência para as edificações como shopping centers. “É de extrema importância atender aos critérios de propagação superficial da chama e a densidade óptica da fumaça estabelecidos na Instrução Técnica nº 10, aliado as exigências de compartimentação que devem atender aos critérios da IT nº 09, bem como o sistema de chuveiros automáticos".


REAÇÃO AO PRINCÍPIO DE INCÊNDIO


No dia 15 de novembro, o Amazonas Shopping, em Manaus, teve um principio de incêndio que atingiu uma parte da decoração de Natal. O fogo teria iniciado após um curto-circuito numa das lâmpadas decorativas e rapidamente foi controlado pelos brigadistas. Em julho, outro incêndio interditou a praça de alimentação do Riopreto Shopping, em São José do Rio Preto (SP). O fogo começou num restaurante e logo foi controlado por brigadistas e pelo CB.



Também em Rio Preto, em agasto, um incêndio atingiu o shopping Cidade Norte. O fogo se alastrou pelo teto e o empreendimento precisou ser esvaziado. Nenhum desses casos registrou vitimas. Em Rio Verde, Goiás, um incêndio atingiu um restaurante da praça de alimentação do Shopping Rio Verde em maio do ano passado. Segundo o CB, o fogo começou numa máquina de frituras. Na ocasião, duas pessoas inalaram a fumaça e precisaram ser atendidas. A suspeita é que a origem tenha sido por um curto-circuito.


Em muitos casos, a fumaça, que emite gases tóxicos, é uma das principais preocupações. Isso porque, nestes locais, os riscos estão muito associados a uma grande variedade de materiais combustíveis, tais como derivados da celulose e tecido. “Especialmente materiais sintéticos, que são grandes emissores de gases tóxicos resultantes da combustão, que muitas vezes exigem

procedimentos específicos em situações de emergência’’, ressalta o major Fernandes.


Além disso, ele afirma que há ainda a falta de conhecimento dos frequentadores, em que pequenas ocorrências podendo ser potencializadas pelo comportamento inadequado, podendo causar pânico. Dessa forma, a

atuação do CB, não somente nesses tipos de incêndios, mas como em todos os outros, é protocolar. Primeiramente, "proteger a vida dos ocupantes das edificações por meio de seu correto abandono, assim como a proteção e preservação do patrimônio com o uso de técnicas adequadas de combate".


Um dos casos mais conhecidos ocorreu no Osasco Plaza, na região metropolitana de São Paulo, em 1996. Uma explosão matou 42 pessoas e deixou centenas de feridos, que almoçavam no local no momento da tragédia, O chão da praça de alimentação se rompeu e o piso alcançou o teto, que caiu. O laudo do Instituto de Criminalística apontou que a explosão foi provocada pelo vazamento de gás de cozinha em uma tubulação desativada, confinada em um vão sem ventilação situado entre o solo e o piso do estabelecimento. O motivo do vazamento teria sido o uso inadequado de materiais usados na rede de tubos, segundo reportagem da Folha de SP, de junho de 1997. De lá para cá, muitas mudanças ocorreram nos sistemas de prevenção em função dessa tragédia.


Antigamente, segundo o major Fernandes, os bombeiros utilizavam mangueiras que precisavam passar pelas escadas, pois usavam água do tanque das viaturas de combate. Isso porque a rede de hidrante das edificações ou não existiam ou quase sempre apresentavam problemas, Assim, as linhas de mangueiras passavam por vários lances de escada, que eram totalmente abertas e não tinham porta corta-fogo, o que permitia o espalhamento da fumaça, além de as mangueiras atrapalharem as pessoas em fuga pelas escadas.


Os bombeiros, então, precisaram rever seus métodos de combate, As técnicas “passaram a levar em consideração a utilização da rede hidráulica predial, por meio da pressurização pelas viaturas de bombeiro no hidrante de recalque, localizado no acesso principal da edificação ou no passeio público, levando a água ao hidrante no pavimento em que se encontra o incêndio”.


Devido ao comportamento das pessoas nessas situações, o CB também aperfeiçoou as exigências para as saídas de emergência. "Neste sentido, as normas evoluíram e passaram a exigir escadas enclausuradas para edifícios altos, em que quanto mais alto o prédio, maior o grau de exigência e segurança da escada enclausurada."


A falta de conhecimento em segurança contra Incêndio em estabelecimentos dessa natureza é a principal causadora de pânico nas edificações. “Por isso as campanhas educativas são importantes, pois muito embora os bombeiros e brigadistas estejam bem treinados, contam sempre com a falta de conhecimento da população, gerando consequências negativas nessa atuação em situações de pânico.”


BOAS PRÁTICAS


Para garantir que os shopping centers sejam ambientes seguros, e para melhorar as estratégias e soluções adotadas para prevenção de incêndio, a Abrasce criou o Comitê de Segurança, Dele fazem parte representantes dos principais shoppings do Brasil, que discutem e difundem, entre outros temas, as boas práticas para a prevenção de incêndio. Corno um dos resultados desse trabalho, a Associação produziu uma Cartilha de Segurança, que aborda tópicos relacionados à brigada de incêndio e de bombeiros civil, com procedimentos específicos durante ocorrências em dependências de shoppings.


Para o professor Antonio Celso Ribeiro, Brasiliano, consultor e especialista em riscos corporativos, é obrigação do shopping checar se os sistemas de prevenção e detecção, que são de responsabilidade dos lojistas, estão funcionando. “Esse costuma ser um ponto crítico, pois é preciso verificar e comprovar se houve, por exemplo, treinamento. Especialmente com foco no balizamento, que é designar uma pessoa para ficar numa posição específica para direcionar o público em caso de evacuação”, diz. “Também a segurança do shopping deverá saber com precisão para onde encaminhar as pessoas e não deixá-las entrar em pontos críticos, sem saída”.


Para funcionar, os shopping centers devem ter equipe habilitada com brigadistas e bombeiros civis, ter os procedimentos de prevenção bem definidos e equipamentos de proteção e combate eficientes e em funcionamento. Segundo a gerente de Assuntos Institucionais da Abrasce, Flavia Cunha, também é importante que as rotas de fuga estejam bem sinalizadas. Segundo ela, “é preciso fiscalizar especialmente as praças de alimentação, onde o fator de risco é maior. À administração mantém contato constante com lojistas para manter as normas atualizadas e regularizadas.”


À gerente conta que todos os anos os shoppings precisam realizar reciclagens da brigada de incêndio, das quais funcionários e lojistas são envolvidos. “Neste caso, participam principalmente colaboradores de lojas âncoras, salas de cinema e centros médicos. Estes setores possuem brigada própria e, durante o treinamento, ambas as equipes se integram para melhorar o atendimento em caso de emergências.” Também são feitos simulados de abandono, que têm como objetivo treinar o máximo de lojistas possíveis para que a evacuação seja feita de maneira segura. “São realizadas aulas sobre uso de extintores e visitas de conscientização, para observar os prazos, a sinalização dos extintores, a desobstrução das rotas de fugas, o funcionamento das luzes de emergência e uso de equipamentos energizados.”


O major Ostroski explica que esses exercícios de simulação “devem ocorrer, no mínimo, a cada 2 meses, a depender da gestão de risco de cada edificação, que deve levar em conta diversos fatores, dentre eles a perda de brigadistas por causa da alternância de colaboradores”, diz. As simulações devem atender aos requisitos das ITs 16e 17, “sendo importante considerar as particularidades de cada edificação”, ressalta. Após o simulado, deve-se fazer uma avaliação para a correção das falhas.


O major lvan Fernandes lembra que a atuação da brigada é ampla e envolve ações de prevenção, em situação de normalidade, e de emergência. “Assim, as brigadas devem atuar na prevenção e no combate, abandono de área e primeiros socorros, visando, em caso de sinistro, proteger a vida e o patrimônio, reduzir os danos ao meio ambiente, até a chegada do CB, quando poderá atuar no apoio”, explica o major.


PARA ALÉM DA LEGISLAÇÃO


Dentre outras normas, os empreendimentos comerciais devem seguir a ABNT “NBR 14608, que estabelece a atividade da equipe de combate e a quantidade mínima de bombeiros civis, com memória de cálculo diretamente proporcional ao risco à proteger, à classe da edificação e à área total construída do empreendimento comercial. De acordo com o major Ostroski, a legislação de segurança contra incêndio e a harmonia entre as medidas, prescritas nas diversas ITs do CB, “formam o arcabouço de proteção das edificações e áreas de risco”, Ele destaca, por exemplo, conforme as ITs 16 e 17, que os shopping devem possuir gerenciamento de risco e brigada de incêndio. “Estes parâmetros balizam como deve ser feita a desocupação de acordo com as particularidades de cada edificação, bem como os treinamentos e periodicidade a serem realizados”, diz.


Brasiliano comenta, no entanto, que hoje, com o avanço das tecnologias, os shoppings vão além das exigências dos bombeiros e das normativas em geral e utilizam dispositivos inteligentes para auxiliar na prevenção. Um exemplo são os sistemas de vigilância eletrônica, com circuito de TV que avisa a central rapidamente em caso de princípio de incêndio, inclusive por mensagens de voz, dotados também com detectores de fumaça. “Ou seja, a tecnologia está muito avançada em prol do combate a incêndio, sem necessidade de fator humano”, relata.


Segundo Flavia, cabe ao lojista a instalação e a manutenção do sistema. “Exige-se que todos os sistemas de exaustão passem por manutenção preventiva e limpeza periódica por empresa especializada. Semestralmente, deve ser realizada limpeza de coifas e dutos de exaustão, com instalação de janelas de inspeção, de acordo com as normas da ABNT, com apresentação de laudo de execução”. À manutenção preventiva deve ser realizada a cada 90 dias, ou em menor período, de acordo com o acúmulo de gordura nos dutos.


As praças de alimentação exigem cuidado especial. “De forma geral, o sistema de

exaustão e ventilação mecânica da cozinha deve ter um sistema fixo de combate para proteger a coifa, a rede de dutos e a caixa lavadora. Lojas com exaustores precisam ter equipamentos de prevenção e combate a incêndios”, explica a gerente da Abrasce, Também as salas de cinema recebem tratamento especial. Carpetes, paredes e poltronas são revestidos com material anti-chama, Em datas comemorativas, como Natal, os shoppings costumam aumentar a equipe e montar planos especiais de prevenção, “Neste caso, o principal cuidado é com a decoração, que exige documentação técnica dos responsáveis. Entre elas, podemos citar a NR-IO, que trata sobre segurança em instalações e serviços energizados, além do acompanhamento do CB durante a instalação das estruturas”, diz Flavia. Projetos elétricos dos cenários e/ou brinquedos são analisados e verificados pela equipe de segurança de cada shopping, segundo a gerente.



A chegada do Papai Noel costuma atrair grande público, Nestes casos, a gerente explica que previamente é feita uma análise da quantidade de pessoas para então estimar o número adequado de bombeiros civis e brigadistas presentes. “Quando há queima de fogos de artifício, outros cuidados devem ser tornados, como autorização da Polícia Cívil e Exército, devido aos explosivos, assim como o cuidado com os sistemas de segurança, prevenção e combate a incêndios”, finaliza.

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